Por definição, moeda é o termo utilizado para designar tanto uma peça de metal, geralmente de formato circular, cunhada por uma instituição governamental e destinada ao uso como meio de pagamento, quanto o meio empregado para realizar transações monetárias. Um exemplo clássico é o dólar, a moeda oficial dos Estados Unidos, que circula livremente em diversos países.
Ao longo dos séculos, diversos tipos de moeda foram adotados. Contudo, a “moeda” do século XXI distingue-se radicalmente das anteriores. A atenção, atualmente, é vista como um dos principais geradores de receita em escala global, estabelecendo-se como uma valiosa moeda no mundo moderno. Este fenômeno ganhou impulso principalmente devido ao modo como as plataformas sociais capturam e monetizam a atenção dos usuários por meio de conteúdos personalizados e publicidade direcionada.
A WARC, um serviço de assinatura digital global que oferece melhores práticas de publicidade, evidências e insights de algumas das principais marcas do mundo, divulgou, em 24 de agosto de 2023, um estudo intitulado “Global Ad Spend Outlook 2023/2024: Withstanding Turbulence”. Este estudo projeta que os gastos globais com publicidade atingirão US$ 1,04 trilhão em 2024, ultrapassando a marca de 13 dígitos pela primeira vez. Tal crescimento é impulsionado, principalmente, pela campanha presidencial nos EUA e por eventos esportivos significativos, como os Jogos Olímpicos de 2024 e a UEFA Champions League.
O artigo apenas ressalta o que já é de conhecimento público: o mercado sabe que conquistar a atenção dos consumidores é fundamental; por isso, investe cada vez mais em publicidade, marketing e em outros meios que facilitem essa conexão, sabendo que esse investimento pode gerar um retorno gigantesco.
Esta constatação não minimiza os avanços significativos alcançados pela sociedade e pela humanidade em termos de ciência, tecnologia e entendimento mútuo. No entanto, destaca como, apesar dessas conquistas, somos constantemente provocados por meio de anúncios veiculados a querer sempre um pouco mais.
Este artigo visa provocar uma reflexão mais profunda sobre o impacto do ambiente em nossas vidas e de que maneira isso influencia decisões cruciais que tomamos diariamente. Ao enfocar especialmente em nossos padrões de consumo e sua relação direta com as estratégias de mercado, ele ressalta como a atenção se transformou em uma valiosa moeda do século XXI, com o mercado dedicando recursos consideráveis para capturá-la e convertê-la em lucro. Prossiga com a leitura e compreenda essas reflexões.
Cenários incertos geram “emoções à flor da pele”
“As altas taxas de juros, a inflação em espiral, os conflitos militares e os desastres naturais criaram um coquetel amargo ao longo dos 12 meses anteriores, mas a última temporada de lucros mostra que o mercado publicitário resistiu a esta turbulência e agora virou uma esquina”, afirma James McDonald., diretor de Dados, Inteligência e Previsão da WARC.
Essa “esquina”, gera uma sensação de escapismo num cenário de metacrise, marcada por um caos que abrange aspectos sociais, ambientais, políticos e econômicos. A pandemia de Covid-19, que provocou retrocessos no desenvolvimento humano em quase todos os países. A guerra na Ucrânia e entre Israel x Hamas criou mais sofrimento humano. Temperaturas recordes, incêndios, tempestades e inundações soam o alarme de sistemas cada vez mais fora de sintonia. Juntos, esses fatores contribuem para uma crise de custo de vida global, delineando uma era de incertezas e instabilidade para as vidas ao redor do planeta.
A incerteza não é um fenômeno novo, mas hoje assume novas e sinistras dimensões. Um “complexo de incerteza” sem precedentes na história humana está surgindo, gerando uma apatia global e paralisando tanto indivíduos quanto consumidores. Este cenário, aliado a rápidas evoluções tecnológicas e fenômenos como a “TikTokificação da atenção”, que nos conduz a uma distração crônica, tem transformado a economia da atenção na commodity mais valiosa de todas. Por isso, é destacada neste artigo como a moeda do século XXI.
As emoções à flor da pele que brotam deste cenário impulsionam uma busca por alternativas que nos distanciem do pessimismo global. Assim, o mercado nos inunda com uma enxurrada de informações em variados formatos. A atenção que conseguem capturar é extremamente valiosa, sendo incessantemente disputada por meio de expressões artísticas inusitadas que garantem os preciosos primeiros segundos de atenção, essenciais para manter o espectador retido.
A atenção é a moeda do século XXI, mas como ficam o poder de escolha e as escolhas de poder?
Vivemos um paradoxo civilizatório, equilibrados em uma ponte que de um lado mostra transformações tecnológicas e, do outro, confronta crises globais. Esta situação nos coloca frente a uma perplexidade marcada pela ausência de respostas claras e ameaça diretamente nossa autonomia de escolha, pois o ambiente em que vivemos influencia profundamente nossas decisões, sejam elas pessoais ou coletivas.
Nesse contexto, surgem figuras que fazem as escolhas de poder, decidindo além dos nossos desejos pessoais, muitas vezes com foco no aumento do Retorno sobre Investimento (ROI). Diante desse cenário, adotar uma perspectiva crítica sobre como o mercado molda nossos desejos e necessidades tornou-se mais essencial do que nunca.
Para finalizar, e com a ciência dos perigos que as novas incertezas, a insegurança, a polarização e a demagogia representam em muitos países, é vital reconhecer que há também oportunidades — uma chance para reimaginar nossos futuros, renovar e adaptar nossas instituições e redefinir nossas narrativas sobre quem somos e o que valorizamos.
Este é o caminho esperançoso a seguir, se quisermos prosperar em um mundo que está constantemente se transformando. Essa reflexão nos desafia a considerar como podemos, individual e coletivamente, enfrentar e responder aos desafios que nos são apresentados.