A pessoa mais jovem — e segunda mulher — a levar um Nobel de Economia é a francesa Esther Duflo, ganhadora do prêmio em 2019 ao lado de seu marido e outro colega pelo trabalho para a redução da pobreza em países subdesenvolvidos. Além do tema de suma importância, o destaque é o uso de ensaios randomizados nas ciências sociais, tornando científica a economia do desenvolvimento e afastando os pobres de suposições a seu respeito.
Com resultados importantes, como aumentar a taxa de vacinação em 6x na Índia rural após experimento em 134 vilarejos, aumentar a frequência e o desempenho escolar após desparasitar crianças no Quênia e na Nigéria e descobrir que microcréditos na Indonésia não impactam muito a redução da pobreza, a economista vem se dedicando em auxiliar governos de países pobres a articularem e construírem políticas públicas que solucionem os problemas de suas nações.
Seu discurso enfatiza a abordagem experimental para aliviar a pobreza global. Ou seja, incentiva o teste de hipóteses; encoraja que se tente de todas as formas reduzir a pobreza e a desigualdade para que sejam encontradas, mais e mais, relações entre incentivos econômicos modestos que sejam capazes de promover impactos sociais significativos, com o objetivo de também atingir um crescimento mais rápido e robusto.
A pobreza global e a justiça climática
A pobreza é um fenômeno multidimensional, conceito trazido por Amartya Sen — Nobel de Economia em 1998 e idealizador do IDH —, e por isso, com a realidade do aquecimento global, Duflo fala em justiça climática. O fato de que ricos consomem mais e sofrem menos é potencializado pelos efeitos de um planeta mais quente. Por consumirem mais, ricos emitem mais gases de efeito estufa, contudo é a periferia quem paga a conta, seja por trabalhar no sol ou em serviços braçais, por não ter ar-condicionado, por morar em áreas de risco e perder a vida ou todo o resto num desastre climático. Dados da Oxfam apontam que 10% dos mais ricos são responsáveis por 50% das emissões de CO².
Em fevereiro e em abril de 2024, a professora do MIT (Massachusetts Institute of Technology) participou de reuniões do G20, oportunidades em que apresentou sua proposta para a criação de um imposto global que incida sobre multinacionais e bilionários, que seria destinado à adaptação climática em países pobres. Este argumento é sustentado pela dívida moral histórica dos países ricos para com os mais pobres, calculada em US$ 500 bilhões por ano. A dívida considera a exploração de recursos e mão-de-obra, as relações comerciais desiguais, os impactos ambientais causados pelo consumo e outros fatores adjacentes que corroboram que o sucesso econômico dos países em desenvolvimento é mantido por relações e sistemas que acentuam a exploração e a desigualdade.
Em junho veio ao Brasil palestrar a convite da Febraban (Federação Brasileira de Bancos) na feira anual de tecnologia bancária e emendou outras agendas, reiterando a ideia de um fundo global para o combate às mudanças climáticas, em que os recursos da taxação das multinacionais e bilionários fluam aos impactados por eventos climáticos extremos, geralmente no sul global. De preferência, diretamente, como um pix climático. Dessa forma a dívida histórica seria mitigada.
O Rio Grande do Sul e o Brasil vivenciam um dos maiores desastres ambientais da história, cujos prejuízos exigiram aportes estratosféricos e mobilização nacional. 94% dos municípios do estado foram afetados pelas fortes chuvas. A população pobre é a mais comprometida e, a depender das condições de reestruturação da infraestrutura e das políticas públicas, irá piorar suas condições de vida ou ser obrigada a emigrar. O impacto continua sendo contabilizado. Por parte do governo federal já foram gastos mais de R$ 93 bilhões e gastos plurianuais estão por vir.
A tendência é que eventos climáticos extremos aconteçam com maior frequência e soluções de financiamento climático sejam cada vez mais demandadas. Embora investimentos para a adaptação climática tenham sido pouco atrativos por não gerarem retorno financeiro direto — apesar de gerarem proteção a custos futuros —, é preciso inovar na ampliação desse tipo de capital. A sugestão de Duflo é que as grandes fortunas resolvam grandes problemas.
Aos investidores, ela convida ao questionamento: existem coisas nas quais não se deva investir porque simplesmente não são boas para o mundo?