O que esperar dos mercados em 2024?

Os mercados globais são voláteis. Neste artigo, Ricardo Moura, diretor de alocação da VOGA, compartilha sua visão do cenário macroeconômico global.
Mercados globais
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Só que dessa vez com direcionamentos objetivos…. 

Não. Esse não é mais um artigo clichê que vai te falar que esse é o ano da Renda Variável, que você vai viver de renda com Fiis aportando R$ 100,00 por mês, ou que a Selic caiu e agora a Renda Fixa acabou. A ideia aqui é explicar de maneira mais detalhada como estou enxergando o cenário macro global e como você deveria/poderia pensar o seu portfólio com base nesse cenário. 

Se eu tivesse que escolher um único grande tema macro para 2024, eu escolheria a queda dos juros globais. Se vai cair 100bps, 200bps, 300bps, não é tão relevante assim a princípio, mas é um fato que esse ano será um ano de queda dos juros no mundo inteiro. E se os juros vão cair, a tendência é que isso seja bom para os ativos de risco (entenda ativos de risco como basicamente tudo que não seja renda fixa).  

O único momento em que queda de juros não seria bom para os ativos de risco, seria se a economia estivesse à beira de uma recessão, e por isso os juros precisariam cair rápido para dar fôlego aos players. Não me parece que esse seja o caso atual, já que a economia americana se mostra extremamente resiliente e com a inflação em trajetória convergente à meta.

Esse contrassenso foi o que tirou o sono de muito gestor macro, que se apegando a indicadores antecedentes e a correlações históricas, deram como certo uma recessão nos EUA e uma desaceleração na economia global. Tudo isso só mostra como o mercado é dinâmico e que não podemos nos apegar a teses (futuramente escrevo sobre isso). 

Bem, tendo em vista o cenário que acabei de descrever, não seria então só encher a sacola de bolsa e criptos e esperar?  

“Não tão elementar assim, meu caro Watson.” 

Mesmo que você aguente muita volatilidade, acredito que há um custo de oportunidade interessante na renda fixa Brasil e global. Há ativos no Brasil com alta qualidade de crédito e com liquidez a mercado, que se você segurar durante 10 anos, você triplica o seu capital.  

Alguém vê a bolsa brasileira triplicando de valor em 10 anos?…. 

O Brasil está com a sua produtividade estagnada há décadas e realmente não vemos triggers que realmente destravem valor na economia brasileira. Cada vez mais me parece que teremos mais do mesmo. Assim, acredito que o upside da bolsa brasileira é limitado. 

Já a bolsa americana, acredito que tenha um upside bem mais interessante, exatamente pela dinamicidade de sua economia. Mesmo que a bolsa esteja cara, com múltiplos historicamente em patamares de bolha, o longo prazo deve favorecê-la. Se olharmos no microscópio, também vemos que o setor de tecnologia é o que puxa os valuations para cima, enquanto os outros setores estão em patamares compráveis.  

Só que aqui entra outro problema também, as ações de tech ou as Magnificent Seven, são as ações que realmente estão reportando melhora nos seus resultados, enquanto o resto dos setores não estão tão bem. Então fica a pergunta: será que a bolsa americana estão tão caras assim? 

Além disso, sabemos que historicamente o setor de tecnologia é o que melhor performa em ciclos de queda de juros quando não há recessão. 

Perspectivas para 2024

Resumindo: acredito que a bolsa brasileira tenha um upside maior no curto prazo e menor no longo prazo, e a bolsa americana seria o oposto. Aqui você já tem um direcionamento: tenha uma exposição maior em bolsa brasileira agora e menor em bolsa americana, e depois inverta. Pensando somente nesse ano, acredito que faça sentido estar comprado em ambas, exatamente pelo ciclo de cortes em ambas as economias. 

Passando para o portfólio em si, se eu fosse montar uma carteira hoje, teria uns 70% da carteira em renda fixa, e dividiria aproximadamente 1/3 em cada indexador. Títulos prefixados e IPCA+, eu alongaria pelo menos 10 anos, e títulos CDI+ ou %CDI, eu manteria focados mais no curto prazo 2 a 4 anos, ou liquidez.  

Se você ainda está preso na ideia da renda fixa curta e de não alongar os papéis, ou você realmente tem uma necessidade muito grande do recurso no curto prazo e não pode arriscar, ou você não entende nada de mercado e também não está disposto a ouvir quem entenda. A chance dos juros voltarem a subir forte como subiram no passado é muito pequena. A inflação vem caindo no mundo inteiro e a tendência é que esses juros caiam ainda mais do que já caíram. 

Também não vejo triggers muito fortes para a inflação no Brasil e nos EUA, pelo contrário, vejo uma tendência de estabilidade, o que permitiria juros mais baixos daqui para frente. Com os juros caindo no mundo inteiro ou com tendência de queda, e com as inflações também caindo, por que os juros brasileiros iriam voltar para 13% ou 16% como foi na época da Dilma? 

Teríamos que ter uma volta muito forte da inflação global ou uma piora muito grande no cenário doméstico que aumentasse os nossos juros real, o que me parece também mais difícil tendo em vista os avanços institucionais que tivemos nos últimos anos. Definitivamente esse não parece ser o cenário base. 

Então você pode perguntar: mas e se você errar o cenário, e os juros votarem a subir? Bom, nesse caso teríamos cerca de 20% da carteira, pós-fixada e com liquidez, que se beneficiaria desse cenário, além de ser uma parcela mais curta que teria vencimentos mais próximos, podendo ser rolada com taxas maiores.  

Obviamente que o resto da carteira de renda fixa seria prejudicado, porém, o importante é não cometer erros que te tiram do jogo. Nesse caso, não seria um erro mortal. Além disso, me parece claro que já vimos um cap para o nível de juros. O que teria que ocorrer para que os juros americanos fossem para 7,00%, por exemplo?  

Faço a pergunta, pois eu não vejo como um cenário factível, então se você discorda dessa análise, faz sentido que consiga responder a tal pergunta. 

E os outros 30% da carteira, o que fazer? 

Meus caros, é aqui que o filho chora e a mãe não vê.  

Hoje eu teria pelo menos 15% em liquidez, pois ainda não vejo grandes assimetrias nos mercados de risco, e os outros 15% compraria 1/3 de bolsa brasileira, 1/3 de bolsa americana e 1/3 de Bitcoin. 

Todos esses são ativos que se beneficiam de um afrouxamento monetário global, e que tendem a trazer um alpha para a carteira esse ano. Mas por que o mesmo percentual em cada um deles? Porque sou um cara simples. 

Brincadeiras à parte, o Bitcoin é o ativo com a maior assimetria de risco x retorno entre todos eles, tanto de curto e de longo prazo, bolsa americana já tenderia mais para o longo prazo, e a bolsa brasileira mais para o curto prazo. Assim, balanceando essas perspectivas e horizontes de tempo de retorno, com o nível de volatilidade esperada de cada um dos ativos, eu colocaria todos eles com o mesmo peso na carteira hoje. 

Importante salientar que não sugiro uma postura passiva para a carteira, é sempre importante estar reavaliando o cenário e sendo humilde perante o mercado. Buy and hold é uma filosofia que só se mostrou vencedora na bolsa americana, então muito cuidado ao querer transferi-la para suas operações na bolsa brasileira.  

Sugiro uma postura ativa na gestão da sua carteira, sabendo aproveitar os momentos de maior assimetria e evitando grandes drawdowns. É evitando esses grandes drawdowns ao longo do tempo que a performance da sua carteira deslancha, e não necessariamente nos grandes acertos. Sem contar o abalo psicológico que grandes drawdowns podem trazer ao investidor. 

Espero que essa sugestão de alocação dure mais do que um dia. O mercado é tão dinâmico que as coisas podem mudar muito rápido e você nem perceber. Estou escrevendo esse texto no dia 13/02, terça-feira de carnaval, enquanto a bolsa brasileira está fechada, e o CPI acabou de sair vindo pior do que as expectativas. O mercado está desabando, e agora só se precificam 100bps de corte na FED Funds. Até outro dia, se precificavam 175bps… 

Mais do que nunca, tenham um profissional de confiança do lado de vocês, pois o mar dos mercados não está para peixe, se é que algum dia esteve… 

OBSERVAÇÃO! Para que a CVM não venha encher o meu saco, esse artigo não é recomendação de investimento, tendo apenas intuito educacional e informativo, e é uma forma de expressar a minha visão sobre os mercados. Tome qualquer decisão de investimentos por sua conta e risco. 

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