Nos últimos anos, o Brasil tem testemunhado uma explosão no número de plataformas de apostas online, com impactos sociais e econômicos profundos. Com um público cada vez mais jovem e vulnerável, a promessa de lucro rápido e fácil atrai milhões de brasileiros.
Contudo, essa prática está contribuindo para um superendividamento das famílias, desencadeando uma crise financeira e soando um alarme de preocupação, inclusive para instituições financeiras. Preveem-se consequências potencialmente críticas, caso o aumento descontrolado das apostas continue.
“Estamos diante de um cenário potencialmente crítico. Pelo tamanho desse mundo de apostas online, temos um quadro de proporções alarmantes,” afirma Isaac Sidney, presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), em entrevista ao Brazil Journal.
Especialistas alertam que, além dos impactos econômicos, a ludomania, ou o vício em jogos, está em ascensão, exacerbando os problemas de saúde mental e a instabilidade familiar. Esse fenômeno demanda urgência em regulamentações e campanhas de conscientização para mitigar os danos sociais e financeiros.
Além disso, o Brasil enfrenta um desafio: como regular eficientemente esse mercado, equilibrando a arrecadação fiscal e a proteção social? Até os bancos estão preocupados com o efeito cascata desse fenômeno. O momento pede uma reflexão séria sobre o futuro desse setor no país e como ele deve ser gerido para evitar prejuízos maiores.
14% dos brasileiros participam de apostas online, enquanto apenas 2% investem na bolsa
A 7ª edição do Raio X Brasileiro, realizada pela Anbima em parceria com o Datafolha, traz uma análise profunda do comportamento financeiro da população em 2023. O estudo revela que 14% dos brasileiros com 16 anos ou mais, ou seja, cerca de 22 milhões de pessoas, fizeram pelo menos uma aposta online em 2023, enquanto apenas 2% da população investiu na bolsa.
Esse aumento das apostas online também contribuiu para o estresse financeiro da população, com 34% dos brasileiros gastando mais do que sua renda em 2023, segundo o mesmo relatório. Dos 14% que apostam, 3% utilizam frequentemente aplicativos de apostas (5 milhões), 5% apostam de vez em quando (8 milhões), e 6% raramente (10 milhões).
A geração Z (16 a 27 anos) liderou as apostas online, com 29% de participação, seguida pelos millennials (28 a 42 anos), com 18%. As gerações X (43 a 62 anos) e os boomers (63 anos ou mais) representaram apenas 6% e 4%, respectivamente. O público masculino também tem maior aderência, com 19% dos homens apostando, nove pontos percentuais a mais do que as mulheres (10%).
Dinheiro rápido e promessas de retorno alto são as principais motivações para apostar
Entre os brasileiros que apostaram online em 2023, duas grandes motivações se destacam: 40% buscam a chance de ganhar dinheiro rápido em momentos de necessidade, enquanto 39% são atraídos pela possibilidade de altos retornos. Outros apostam por diversão (26%), pela emoção (25%), ou pela opção de investir pequenos valores (20%).
Aqueles que veem as apostas como uma forma de ganhar dinheiro rápido são predominantemente das classes C e D/E, e a geração X (43-62 anos) representa uma parcela significativa desse público. Já entre os que apostam por diversão, investidores, millennials e pessoas das classes A/B lideram.
Curiosamente, 22% dos apostadores consideram as apostas online uma forma de investimento financeiro, um número que chega a 25% entre os homens. Entre as gerações, os boomers (63 anos ou mais) são os que mais enxergam as apostas como um tipo de aplicação, com 38%, apesar de serem os que menos participam das apostas online.
Diante desse cenário, é essencial conscientizar a população de que as apostas online não devem ser vistas como um investimento real. A promoção da educação financeira se torna cada vez mais crucial para evitar que mais brasileiros caiam em armadilhas financeiras, especialmente diante da crescente popularidade das apostas.