O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central divulgou, nesta terça-feira (17/12), a ata da 267ª Reunião, realizada nos dias 10 e 11 de dezembro de 2024, com uma análise detalhada da conjuntura econômica e das perspectivas para os próximos meses.
O cenário, descrito como “mais adverso”, motivou uma elevação de 1 ponto percentual (pp) na taxa Selic, agora fixada em 12,25% ao ano. Além disso, o Comitê sinalizou que, caso o panorama atual persista, novos ajustes de mesma magnitude serão realizados nas próximas duas reuniões.
De acordo com a ata, o cenário internacional segue desafiador, especialmente pela incerteza em torno da desinflação e do ritmo de desaceleração econômica nos Estados Unidos. Os bancos centrais de grandes economias continuam mantendo posturas restritivas, o que exige cautela adicional de países emergentes, como o Brasil.
No cenário doméstico, o Copom destacou a resiliência da atividade econômica, evidenciada pelo PIB do terceiro trimestre e por um mercado de trabalho aquecido. Apesar da política monetária contracionista, o consumo das famílias e o crescimento do crédito continuam em ritmo intenso, impulsionados por fatores fiscais e de crédito acima do esperado.
A inflação, por sua vez, voltou a pressionar a economia. A elevação recente nos preços de alimentos e a desvalorização cambial intensificaram o quadro inflacionário. Além disso, a inflação de serviços segue acima dos níveis compatíveis com a meta, reforçando a preocupação do Comitê.
Riscos e perspectivas
O Copom identificou uma assimetria altista no balanço de riscos para a inflação. Entre os principais fatores de risco, destacam-se:
- Desancoragem das expectativas de inflação, que têm se elevado;
- Resiliência da inflação de serviços devido a um hiato do produto mais positivo;
- Depreciação persistente da taxa de câmbio.
Por outro lado, o Comitê avalia que uma eventual desaceleração global mais intensa e os impactos do aperto monetário podem reduzir a inflação.
Compromisso do Copom com a meta de inflação
O Banco Central reforçou que a política monetária continuará focada na convergência da inflação para a meta. Essa meta, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), é fundamental para garantir a estabilidade econômica do país, uma vez que a inflação fora de controle gera incertezas no mercado, desvaloriza a moeda e prejudica o poder de compra da população.
A luta do Banco Central para cumprir a meta tem como objetivo evitar os impactos negativos de uma inflação elevada e persistente. Entre os principais motivos estão:
- Preservação do poder de compra: quando a inflação sobe, os preços aumentam rapidamente, corroendo o poder de compra das famílias, principalmente as de baixa renda, que são mais vulneráveis às variações de preços de alimentos e serviços básicos;
- Manutenção da confiança na economia: uma inflação fora de controle desancora as expectativas de consumidores, empresas e investidores. A confiança no planejamento de longo prazo cai, o que afeta negativamente investimentos e a economia real;
- Impacto nos juros e no crédito: a inflação elevada obriga o Banco Central a manter os juros em patamares mais altos para conter o consumo e ajustar os preços. Isso torna o crédito mais caro, impactando negativamente o financiamento de empresas e o consumo das famílias;
- Proteção contra instabilidade econômica: A persistência de um quadro inflacionário elevado pode levar à desvalorização da moeda (câmbio) e ao aumento do risco-país, tornando o Brasil menos atrativo para investimentos externos;
- Impactos na dívida pública: uma inflação descontrolada pode influenciar negativamente os índices de preços que corrigem títulos da dívida pública, elevando os custos para o governo e pressionando o orçamento.
Segundo a ata do Copom, os sinais de desancoragem das expectativas de inflação — ou seja, o mercado começar a prever uma inflação acima da meta de forma consistente — são um fator de grande preocupação. A credibilidade do Banco Central e da política monetária depende do cumprimento dessa meta. A perda dessa confiança pode exigir medidas ainda mais drásticas no futuro, com consequências para o crescimento econômico e o nível de emprego.
Impactos de não alcançar a meta
Caso o Banco Central não consiga ancorar a inflação em torno da meta, os impactos podem ser severos:
- Volatilidade no mercado financeiro: os investidores podem exigir prêmios de risco mais altos para aplicar em ativos brasileiros, resultando em alta do dólar e fuga de capitais;
- Aumento do custo de vida: famílias sentirão maior dificuldade em manter seu padrão de vida, principalmente com o aumento de preços em serviços essenciais;
- Impacto sobre a economia real: o encarecimento do crédito e a queda no poder de compra tendem a reduzir a demanda e os investimentos, desacelerando o crescimento econômico.
Por isso, a decisão do Banco Central de elevar a taxa Selic e manter uma postura ainda mais contracionista busca sinalizar o compromisso firme com a estabilidade de preços. Segundo o Copom, essa postura é fundamental para evitar um cenário ainda mais adverso no futuro e garantir o equilíbrio econômico de longo prazo.